
Já tinha guardado o luto...
Mas as lembranças e os medos ainda estavam presentes (pensava ela que algum dia haviam de passar).
Uma nova relação surge, aos pouquinhos e com calma.
Sem compromissos nem promessas, estar simplesmente era a teoria dos dois. Não queriam assumir-se como sendo apenas um, apenas viver uma amizade um pouco diferente, porque afinal de contas havia feridas abertas.
Quando ela ia a casa dele, regressava sempre, sem nunca pernoitar nem se envolver nos seus lençóis, com a desculpa de que não tinha os seus objectos de higiene, (que afinal de contas fazia questão de não os levar), era uma boa desculpa para não ter que acordar ao seu lado, para depois não passar pela saudade de não o ter ao acordar quando um dia tudo terminasse.
Quando ele ia a casa dela, ela não deixava que ele ficasse, para depois não sentir a falta do cheiro dele na sua almofada.
Dizia ela que estava muito acostumada a dormir sozinha e que não gostava de partilhar a sua cama enorme, pior ainda acordar com o mau hálito e mau humor de outra pessoa.
Fingia-se desinteressada sem se querer comprometer, com medo de ficar comprometida e de vir a perder. Assim preferia nunca ter para não ter que sentir a ausência.
Depois de um dia fantástico, de um jantar romântico e um serão agradável ela preparava-se para sair dizer até um dia destes e regressar a casa, ele sentado no sofá disse-lhe:
“- Antes de ires podes ir à casa de banho, tem lá algo à tua espera. Se calhar hoje podes ficar!”
Ela sem querer acreditar foi ver o que a esperava, e no lavatório estava uma embalagem com uma escova de dentes cor-de-rosa à sua espera. Ele encostado na ombreira da porta sorriu, puxou-a para si e disse-lhe:
“- Vais ficar não vais?!”
Não era uma pergunta, não era um pedido, não era uma intimação era uma vontade.
Ela sabia que assim que colocasse a sua escova cor-de-rosa no copinho ao lado da escova de dentes dele azul estaria a assumir aquilo que tanto medo tinha.
E queria ela resistir?
Queria ela ir deitar-se na sua cama enorme vazia e fria?
Queria ela acordar com um maldito despertador ao invés de acordar com beijos doces?
Não resistiu e ficou… Nesse dia não foi só ela que partilhou a cama com ele. As escovas de dentes começaram a partilhar o mesmo copo.
Agora teria que escolher uma escova de dentes também para ele.
Uma escova à sua medida, da sua cor, do seu estilo. Ainda pensou não levar a escova de dentes para sua casa. Não fez promessa nenhuma, ele só levou porque quis.
Uma escova à sua medida, da sua cor, do seu estilo. Ainda pensou não levar a escova de dentes para sua casa. Não fez promessa nenhuma, ele só levou porque quis.
Mas no fundo também ela queria que a sua escova de dentes não ficasse sozinha no seu copo.
E levou uma escova de dentes azul para o seu copinho.
E ele também ficou.
E ele também ficou.
Como tudo o que começa termina, também esta história terminou.
As fotografias saíram, algumas lembranças também, as roupas foram devolvidas outras guardadas. Mas a escova de dentes continuou no copo.
Se na casa dela só vive uma pessoa porque é que na sua casa de banho continua a haver um copo com duas escovas de dentes uma cor-de-rosa e outra azul?
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